1ª ETAPA – APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO
O ISLÃ
No século VI, a Península Arábica era ocupada por semitas. Tais povos viviam em clãs, que não possuíam um governo centralizado e habitavam duas regiões da península: a Arábia Pétrea e a Arábia Feliz. A Arábia Pétrea era formada por desertos pedregosos, vales secos e dunas, com pequenas áreas de vegetação junto a poços ou nascentes de água, os oásis. Eles eram disputados pelos beduínos, povos do deserto que criavam carneiros e camelos e que viviam em tribos.
Quando a água de um oásis acabava, os beduínos eram obrigados a sair em busca de novas áreas de pastagem. Dessa forma, para sobreviver, entravam em luta com outros grupos de beduínos. Os rápidos e surpreendentes ataques, realizados contra oásis e caravanas, eram denominados razias.
Na Arábia Feliz, área relativamente fértil, praticava-se a agricultura e o pastoreio. As atividades comerciais concentravam-se nas cidades de Yatreb (Medina) e Meca. Grandes expedições de cara vans transportavam os produtos por meio de rotas que se dirigiam tanto para os portos do Mediterrâneo como para o golfo Pérsico.
Meca também era um centro religioso e de peregrinação. Lá ficava a Caaba, santuário dos mais de 300 deuses adorados pelos árabes. Foi na cidade de Meca que nasceu o profeta Maomé, em torno de 570.
MAOMÉ E O MONOTEÍSMO
Maomé abalou as crenças dos clãs do deserto, que veneravam muitos deuses. Órfão, aos 15 anos entrou para o comércio de caravanas e conheceu vários povos e diferentes culturas. Influenciado pelas crenças monoteístas, Maomé inaugurou, entre os beduínos, a crença em um único deus. Com isso, enfrentou a fé dos politeístas. Seus seguidores passaram a ser conhecidos por muçulmanos, isto é, submissos a Alá. Todos deveriam obedecer à vontade divina e ao deus único, Alá. Essa nova organização político-religiosa é denominada Islã.
A religião deveria se espalhar por todo o mundo. Para quem lutas se pela conversão dos fiéis, era prometido o Paraiso: um oásis eterno, com jardins, fontes de água fresca e fartura. Maomé uniu as diversas tribos da Arábia em torno da religião muçulmana. Além de líder religioso, tomou-se líder político da Península Arábica, que passou a ter um governo central.
A PALAVRA DO ALCORÃO
Para os muçulmanos, a palavra divina foi revelada ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel. Maomé transmitiu oralmente a seus seguidores as mensagens recebidas. Alguns de seus discípulos anotaram os ensinamentos do profeta e os reuniram, após a sua morte, num livro considerado sagrado para os islâmicos: o Alcorão ou Corão, que, em árabe, significa "o que deve ser lido".
Escrito em árabe, o Alcorão é composto de 114 capítulos que tratam da religião e dos costumes a serem seguidos pelos muçulmanos. Estabelece como devem ser: orações, jejuns, esmolas, alimentação, família e herança. O Alcorão orienta os muçulmanos a terem no máximo quatro esposas. As mulheres não têm os mesmos direitos que os homens. Essa é uma discussão muito atual no mundo islâmico. Mesmo assim, no Alcorão, é reconhecido o direito de homens e mulheres se divorciarem. Hoje, em vários países muçulmanos, mulheres exigem igualdade de direitos e oportunidades.
OS SUCESSORES DE MAOMÉ
Maomé era tido como profeta de Deus. Não tinha substituto. A sucessão dos chefes do Estado islâmico foi marcada por diversos conflitos. A crise teve início com o califa Othmã, genro de Maomé e representante das famílias pode rosas de Meca. Sofrendo a oposição de muitas tribos de beduínos e dos habitantes de Medina, Othmã foi assassinado por um muçulmano em 656. Ali, primo de Maomé e sucessor de Othmã, foi acusado de envolvimento com o crime. O Islã viveria sua primeira guerra civil.
O califa Ali teve sua autoridade questionada pelo governador da Síria, Muhawya. Como parente de Othmã, segundo os costumes dos árabes, Muhawya exigiu a apuração do crime. Como último recurso, o governador da Síria apareceu com o seu Exército à frente das tropas do califa. Seus soldados traziam o Alcorão na ponta das lanças. Exigiam um julgamento para o assassinato do califa Othmã.
AS DIVISÕES
Os seguidores de Ali se dividiram. Muitos não admitiam o julgamento e queriam a morte de Muhawya. Outros pressionaram o califa para estabelecer um conselho de religiosos que fizesse a arbitragem. Ali acabou por ceder e permitiu que se fizesse o julgamento Setores mais populares entre seus apoiadores rebelaram-se contra ele. Tornaram-se os caridjitas ("os que saem"). Seguiram-se conflitos entre as tropas de Ali. A situação tornou-se mais conturbada com a decisão do conselho de religiosos que estabelecia que Alitivera participação no assassinato de Othmã. O califa perdeu mais alguns seguidores, que passaram a apoiar Muhawya.
Ali acabou sendo assassinado por um caridjita. Muhawya tornou-se califa. No seu governo, fundou a dinastia Omiada, tornou o califado hereditário e trans feriu a capital de Medina para Damasco, na Síria, longe das areias, dos oásis e dos beduínos da Arábia.
Os seguidores de Ali ficaram conhecidos como xiitas. São os defensores da sucessão a partir da família do profeta. O grupo mais numeroso ficou conhecido como sunita, aquele que segue a "suna", ou seja, os pronunciamentos do profeta. Os caridjitas foram dizimados ao longo da história por sunitas e xiitas.
A EXPANSÃO DO ISLÃ
Muitas caravanas de mercadores cruzavam os desertos, paravam em cidades, acampavam junto a oásis. Os mercadores viajavam da Arábia até a Europa. Passavam pela África e a Palestina. Chegavam até a Índia e a China.
O deserto do Saara era percorrido por enormes caravanas que chegavam a contar com mais de dez mil camelos. Os empoeirados beduínos, conhecedores do deserto, pareciam ocupar toda a cena de uma vasta paisagem. O mundo parecia ser islâmico. Para os muçulmanos, um milagre de Alá. Após a morte de Maomé, em 632 d.C., os califas se encarregaram de expandir o Islã.
A difusão da fé esteve aliada a uma política expansionista. A unidade territorial do Islã era garantida pelo movimento das caravanas que transportavam riquezas e pelas conquistas que ampliavam seu poderio. As guerras internas que dividiam as tribos árabes eram direcionadas para além das fronteiras da Arábia. A guerra santa tornava-se o elemento aglutinador dos grupos árabes. A razia era, agora, a política do Islã.
Os muçulmanos conquistaram territórios que iam das fronteiras da Índia, pelo Oriente, até a Europa, pelo Ocidente. O combate aos infiéis (cristãos e judeus) e aos pagãos (politeístas e outras crenças) impulsionava os muçulmanos. Os que aceitassem Alá seu profeta se tornavam membros da comunidade dos fiéis.