A experiência pretérita não nos favorece: um reservatório com algumas centenas de metros cúbicos de gás natural foi capaz de destruir um quarteirão da Vila Nova, levantando labaredas de 100 metros, arrasando centenas de casas e deixando centenas de feridos. (A TRIBUNA, 1967).
Além do gasômetro, o porto de Santos vem sendo palco de assustadores acidentes nos últimos anos, como, por exemplo, o incêndio no armazém da Coopersucar em 2014, o incêndio nos tanques de combustíveis da empresa Ultracargo em 2015, o incêndio no pátio de containers da empresa Localfrio em 2016. O Brasil também acumula acidentes ampliados com explosões de esferas contendo gás liquefeito, como a que ocorreu na Refinaria Duque de Caxias em 1972. Os danos que podem ser ocasionados por sinistros com navios tanques de gás natural próximos a grandes centros urbanos são ainda mais severos, como os apresentados no documentário “Comunidades em risco: perigos do GNL”, documentário esse produzido no exterior, que pode ser acessado em: [
https://www.youtube.com/watch?v=uBAgvXPw1aI ].
Não se pode olvidar que a estratégia do Estado de São Paulo e do País de elevar a produção de energia baseada na queima de combustíveis fósseis (metano) mina os esforços do acordo de Paris, celebrado em 2015, que visa promover desenvolvimento com baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE). A queima de gás natural (metano [CH4]) causa um significativo impacto ambiental local e global: a cada 1 tonelada de gás natural queimada são retiradas da atmosfera 4 toneladas de oxigênio e devolvidas 2,75 toneladas de GEE (CO2), além de 2,25 toneladas de água ácida.
Recentemente o Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou uma Ação Civil Pública que foi distribuída para a 2ª Vara da Fazenda Pública e recebeu o nº 1025528-84.2020.8.26.0562, em que são requeridos a TRSP - Terminal de Regaseificação de GNL de São Paulo S/A (ligada à empresa Comgás), a Prefeitura Municipal de Santos e a CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, e entre outros pedidos, requer liminarmente a imediata suspensão do processo de licenciamento, a proibição de iniciar a obra ou a sua paralisação, assim como a realocação das operações dos navios para áreas marítimas externas ao estuário de Santos.
Baseado no estudo de impacto ambiental (EIA) o Ministério Público traçou a área que será atingida severamente em caso de acidente: até 790 metros (linha azul) em todas as direções haverá radiação térmica e em 1.153 metros (linha vermelha) haverá pressão elevada (Figura 04).