Você vai ler um trecho de um diário pessoal.
Diário,
Hoje aconteceu uma coisa que eu esperava há muito tempo. O Odorico, que é o papagaio do seu Nonô, aprendeu a falar meu nome!
Fazia um tempão que a gente estava ensinando, mas não havia meio do danado aprender. Eu acho até que era um pouco de birra dele, sabe? Ou talvez o Odorico só tenha aprendido a falar meu nome agora, porque só agora começou a gostar de mim.
Como eu fiquei feliz com isso, diário! Ainda mais que foi sem esperar, sabe? Eu estava lá, conversando com seu Nonô e, de repente, o bichinho começou: Serafina, Serafina! Currupaco, papaco! Serafina, Serafina! E desandou a falar que não parava mais.
Daí eu é que fiquei muda, imagine. Mas foi só por um minuto. Quando a emoção diminuiu um pouco, corri até o poleiro, fiz um agradinho na cabeça dele e falei: Dá o pé, Odorico, e ele deu, diário! Pela primeira vez o papagaio do seu Nonô falou meu nome e bicou meu dedo bem de levinho, como se estivesse me fazendo carinho também.
Puxa, eu fiquei tão emocionada, tão contente, tão...tão nem sei o quê, que saí correndo da casa do seu Nonô, sem falar tchau, você acredita?
E a primeira coisa que me deu vontade de fazer quando cheguei em casa foi contar tudo pra você.
É...Acho que você está se tornando importante mesmo. Quase querido...
Cristina Porto. Se...será, Serafina?.
São Paulo: Ática, 2009.