Considere o seguinte texto para as questões de 1 a 7.
40 mulheres sobrevivem à maratona
mais dura da história
Nunca __________ tantas desistências. ______ dezenas de
atendimentos médicos. A queniana Chepngetich vence uma prova disputada à
meia-noite com 30 graus e quase 80% de umidade, no limite do suportável
Um jovem diria que aquilo parecia o final de
uma festa regada a álcool que saiu do
controle. _______ garrafas de água vazias espalhadas pelo chão (a bebedeira
teria sido sem álcool, portanto) e sacos de gelo derretendo. E em cadeiras de
plástico, com o olhar perdido e os ombros caídos, desorientadas, algumas mulheres suadas e caladas,
rodeadas de assistentes médicos medindo sua temperatura e cobrindo-as com sacos
de gelo ainda inteiros. Mais ao fundo, um trânsito constante de grandes carrinhos de
golfe transformados em ambulâncias silenciosas que transportavam, com as
janelas fechadas, algumas jovens à beira do desmaio. Outras eram levadas em
cadeiras de rodas.
[...] Poderia ser isso, ainda mais pelo fato
de que tudo tenha ocorrido quase às três da manhã num cenário de filme
idealizado por um louco — como um grande estacionamento com enormes torres
de iluminação e vários telões gigantes, do tamanho dos que vemos nos estádios,
ante uma tribuna de honra como a de um hipódromo, com centenas de poltronas de
couro vazias, salvo as ocupadas pelo emir e alguns de seus xeiques abanando-se
com leques, e pelo presidente da Associação Internacional das Federações de
Atletismo (IAAF), Sebastian Coe —, com 40 graus de sensação térmica no
asfalto (30 graus de temperatura, mais 75% de umidade). Poderia ser isso, mas não.
Era o final da maratona do Campeonato Mundial de Atletismo, era o Corniche, o
calçadão à beira-mar de Doha (Qatar), onde as
torres grandes são hotéis chamados Sheraton. Assim foi disputado o esporte,
nessas condições contrárias à saúde, e assim foi exibido o valor da competição,
onde não havia nenhum espectador que não fosse dominado por certa tristeza
reforçada pela raiva ao ver o sacrifício, quase humilhação, imposto a algumas
das melhores atletas do mundo. Foram 42.195 metros. Seis voltas num circuito de
sete quilômetros.
“Isso
não é uma maratona, não é esporte. É um descontrole”, diz um renomado técnico,
que sofre observando o patético espetáculo.
“Teria sido pior para a reputação da IAAF suspendê-la que disputá-la nessas
condições?”, pergunta-se em voz alta um membro da equipe de saúde (16 médicos e mais
de 40 assistentes) mobilizada. “A IAAF joga com os números. Decidiu de manhã
que as condições previstas entravam razoavelmente dentro dos limites
considerados seguros, entre 28 e 30,9 graus de sensação térmica, combinando
temperatura e umidade, mas não dá uma cifra oficial real, que certamente será
superior."
Outros técnicos (99% dos espectadores eram
técnicos dos diferentes países) se perguntavam por que, sabendo como é Doha, a
IAAF não preferiu que as corridas de longa distância fossem disputadas em outro
país. Venceu, com um tempo de 2h32m43s (a maratona mais lenta da história dos
Campeonatos Mundiais de Atletismo, dois segundos a mais que a duríssima
maratona dos Jogos Olímpicos de Barcelona
1992, com a subida da colina de Montjuïc), a queniana Ruth Chepngetich, a
atleta que possui o terceiro melhor tempo da história, 2h17m8s, obtido em Dubai
em janeiro passado. Também subiram ao pódio Rose Chelimo, do Bahrein, e Helalia
Johannes, da Namíbia. [...] A disputa começou com 68 atletas e terminou com 40.
Nunca tinha havido tantas desistências. Duas competidoras acabaram no hospital.
Dezenas foram assistidas na
tenda médica logo após cruzar a linha de chegada. A 40ª classificada, a
costarriquenha Gabriela Traña, chegou 47 minutos depois da vencedora.
Às 3h30 da madrugada, a atleta bielorrussa
Volha Mazuronak, quinta colocada, resumiu
em várias frases lapidares, advindas do seu sofrimento, o que a maioria
pensava: “A umidade mata. Você não tem ar para respirar. Pensei que não
terminaria. Foi uma falta de respeito com as esportistas. Meia dúzia de
dirigentes se reuniram e decidiram trazer até aqui o campeonato, mas eles
estavam sentados com ar condicionado, e certamente agora já estão dormindo.”
Os responsáveis pela
federação espanhola se sentem orgulhosos porque, durante a noite lamentável,
demonstrou-se que os países que haviam trabalhado com mais seriedade na
aclimatação tinham sobrevivido, como a Espanha, e os técnicos espanhóis de
marcha, a outra disciplina que desfilará pelo Corniche à meia-noite, tentam não
pensar em voz alta sobre os medos que os afligem em relação aos próximos dias.
Hoje, sábado, será a vez da marcha de 50 quilômetros, _________ masculina e
feminina; amanhã, domingo, os 20 quilômetros femininos; na sexta-feira, os 20
quilômetros masculinos; e no próximo sábado, a maratona de homens.
(Fonte:https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/28/deportes/1569635436_232287.html?%3Fssm=FB_BR_CM&hootPostID=a484a809d1a6cdf98f7f01232f216ba2&fbclid=IwAR3ZghoKO0Jk0EQKJNmp2NPETrVBXdPrYCnyy_8qmbG6IlJKREjn1LIdWSc. Texto publicado em out. 2019).