MANIFESTO EM DEFESA DO POSTO DE SAÚDE nº8
COMPREENDEMOS que uma cidade é muito mais que suas avenidas, edifícios e endereços. Uma cidade só pode ser viva por meio das pessoas que nela vivem, com suas diferenças, semelhanças, objetivos e relações que desenvolvem entre si e o espaço onde estão.

Essas relações formam uma dinâmica comunitária que se reproduz por meio da cultura, da história e, principalmente, da política.
Sendo assim, não é incomum que alguns locais adquiram significados que transcendem ao que são superficialmente e se tornem símbolos que somente as pessoas que vivem naquela comunidade compreendem e sentem.

No nosso Gama, é assim com o abandonado Cine Itapuã, o Hospital Regional do Gama, o Estádio Bezerrão, a Prainha, o Parque Ecológico do Gama e, obviamente, o Centro de Saúde nº 8, pois cada um desses espaços representa um aspecto de como a comunidade se relaciona com o meio em que vive, conectando a sua realidade local com a saúde, em uma perspectiva de que esta não compreende apenas a ausência de doença, mas abrange a cultura, o esporte, o lazer, o meio ambiente e todo o fazer político que constitui a existência popular em um território.

VALORIZAMOS a história de nossa cidade e acreditamos que respeitá-la é algo fundamental para a construção de um sentimento de pertencimento da comunidade em relação às suas origens e raízes, motivando-a a um fazer coletivo que, continuamente, construa o bem viver do povo.

O Centro de Saúde nº 8 esteve ativo de 1973 até 2014, servindo nossa comunidade de forma digna e bastante elogiosa por meio de seus trabalhadores, trabalhadoras e estrutura física. Antes mesmo da existência do Sistema Único de Saúde (SUS) como política pública, quando este foi antecedido pelo INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica e Assistência Social), o Centro de Saúde nº 8 já possuía sua finalidade pública.

Ao longo dos anos, aquele espaço bem localizado e de fácil acesso se converteu em um dos símbolos da saúde pública de nossa cidade, em razão do serviço de excelência e referência que prestava, sendo recordado até hoje por parte da comunidade como um dos melhores postos de saúde do Gama. O Centro de Saúde nº 8 garantiu à população gamense, durante toda a sua existência, atendimentos centrados na integralidade do cuidado, sendo referência na oferta de práticas integrativas e complementares em saúde – inclusive atendimentos que muitas pessoas acham que só existem na rede privada, como acupuntura -, alcançando não só os moradores do território adstrito, mas toda a população da cidade.

O local foi fechado no final de 2014 para reformas, que foram iniciadas em maio de 2015. A empresa responsável pela reforma recebeu R$ 600.000,00 (Seiscentos mil reais), realizou 21% da obra contratada e abandonou o trabalho. Após várias notificações e tentativas de retomada por parte do Poder Público, a segunda colocada na licitação foi chamada e recusou; logo na ordem, a terceira colocada também recusou.

Várias matérias jornalísticas e mobilizações da comunidade foram realizadas no intuito de exigir que o Estado reformasse o local e o devolvesse à comunidade. Tantas outras promessas foram feitas, e nenhuma foi cumprida.

Ao mesmo tempo, um hospital privado crescia de forma vertiginosa ao lado: o pequeno Mater Day se tornou o gigante Maria Auxiliadora e não parou de crescer desde então. A comunidade não deixou de reparar naquele contraste entre a degradação e o abandono de um dos símbolos da saúde pública e do SUS e a pujança e prosperidade do único hospital privado na cidade – questionando-se constantemente se aquele descaso era proposital e oportuno, para que em algum momento o hospital privado pudesse enfim devorar aquele espaço.

Por mais que alguns ignorem e façam malabarismos retóricos para justificar o que defendem, a possibilidade de canibalização de um símbolo da saúde pública por um hospital privado é o reflexo do projeto de desmantelo da saúde pública em nosso País, ao passo que os planos de saúde privada seguem prosperando enquanto mercantilizam a vida e a saúde da população.

Recentemente, o que era apenas um boato intuitivo se materializou em ideia, quando o Governador Ibaneis Rocha, com apoio do autoproclamado deputado do Gama, Daniel Donizet, anunciou a intenção de promover uma Parceria Público Privada (PPP), na qual o hospital privado ficaria com o terreno do Centro de Saúde nº 8 para fazer um estacionamento e, em troca, construiria outro posto em local ainda indefinido. Imediatamente a comunidade reagiu de forma negativa e uma série de mobilizações se iniciou com o propósito de rechaçar essa ideia.

REPUDIAMOS qualquer tentativa de distorção narrativa do que defendemos e a entrega, sob qualquer pretexto, de um patrimônio público de valor histórico, sentimental, comunitário e financeiro que alça à casa dos milhões de reais à iniciativa privada de forma tão generosa e nada transparente. Não admitimos esse alinhamento escancarado entre o governo distrital e o governo federal, que sordidamente investem em ofensivas contra o nível de atenção à saúde mais aproximado do povo: a atenção primária.
Assim como o governo federal tentou privatizar as unidades básicas de saúde, Ibaneis Rocha e seus asseclas na Câmara Legislativa do DF não se contentam com a privatização da atenção secundária através do IGES-DF e, a começar pelo Gama, iniciam a entrega da atenção primária à rede privada; primeiro, sutilmente, com intervenções nas estruturas prediais, para, daqui a pouco, abrir mão da gestão e fragilizar o acesso da população ao serviço de saúde, pois sabemos que essa é a trajetória de programas políticos privatistas.

DEFENDEMOS o Centro de Saúde nº 8 como parte de nossa história, como símbolo da saúde pública em nossa cidade e serviço de grande relevância para os moradores do Gama; por isso exigimos sua permanência no exato local onde sempre esteve, sob gestão direta e responsabilidade do Estado de readequar sua estrutura predial, bem como prover recursos humanos suficientes para a retomada do serviço – sendo, assim, um promotor da saúde pública como um direito básico e fundamental, não passível mercantilização.

EXIGIMOS a sua imediata reforma, estruturação e que seja entregue à comunidade em condições dignas de trabalho para os servidores públicos da saúde e à população do Gama.

REAFIRMAMOS o nosso compromisso com a defesa incondicional do SUS, o respeito e a valorização dos servidores da saúde pública e com os valores consagrados na Constituição Federal de 1988:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
ANUNCIAMOS ao Governo do Distrito Federal (GDF), à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), à sociedade, às instituições e aos poderes constituídos que iremos recorrer a todos os meios legais e de mobilização popular, para repudiar, defender, exigir e reafirmar o que expressamos por meio desse manifesto.

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