Rio de Janeiro, 02 de Junho de 2023

À Riofilme:

Somos documentaristas preocupadas/os com o futuro do documentário brasileiro, e nos reunimos nessa carta/ação para contestar a política de fomento proposta pelo atual edital da Riofilme, mas não somente. 

O cinema documentário é historicamente forte no Brasil, com uma produção diversificada e que atinge um público amplo, que vai desde os festivais de cinema até as plataformas de streaming. Por isso nos chama a atenção e nos preocupa que o fomento de sua produção e distribuição esteja diminuindo ano a ano, sem que uma alternativa para o fortalecimento das produções independentes e autorais seja apontada. Diminuir os recursos para as produções documentais e excluir o cinema documentário da linha de distribuição, são golpes profundos na produção autoral independente, que agoniza frente à força econômica dos grandes produtores de conteúdo VOD, que aniquilam a autoria dos projetos e reduzem as possibilidades de conteúdo e linguagem documental. 

Dito isso, nos chama atenção que o edital da Riofilme defina como o cinema documentário deve ser: "cuja trama/montagem seja organizada de forma discursiva por meio de narração, texto escrito ou depoimentos de personagens reais." Por que a necessidade de definir, de forma tão estrita e redutora, o que é o cinema documentário? As definições das outras linhas de ação do edital dizem respeito à duração mínima da obra, ou ao seu principal foco de distribuição (TV, Cinema, VOD), mas não restringem ou definem o que cada obra audiovisual significa enquanto linguagem. Este é o ponto. Ao definir o que seria a linguagem documental, o edital da Riofilme exclui outras possibilidades autorais, de experimentação e inovação tanto em termos de conteúdo quanto da própria linguagem documental, excluindo, assim, outras demandas de desenvolvimento e de produção, reduzindo também o entendimento das necessidades de recursos para a linha. 

Talvez isso explique, mas não justifique, os valores tão abaixo do mercado propostos tanto no edital de Produção quanto de Complementação de Recursos da Riofilme e, ainda mais grave, a exclusão do Cinema Documentário da linha de distribuição do referido edital. 

Esta carta/ação exige que os valores dos fomentos para Produção de Longa ou Série Documental  e de  Complementação de Recursos seja ampliado para até R$1 milhão e  até R$600mil reais, respectivamente. Exigimos, também, a inclusão do Cinema Documentário no edital de Distribuição para Salas de Cinema e propomos uma linha complementar de Distribuição de Impacto. 

Firmamos nesta carta nosso compromisso com o Cinema Documentário autoral brasileiro!

Atenciosamente,

Documentaristas da Cidade do Rio de Janeiro