Contextualização: O processo de colonização pelo qual passou o Brasil (e toda a América Latina e a África) deixaram cicatrizes e traumas coletivos (como os genocídios e epistemicídios negros e indígenas, o tráfico de africanos e os processos de escravização) que repercutem de forma profunda nas relações que estabelecemos com a terra, com as ancestralidades, com as epistemologias e cosmologias originárias (sobretudo negras e indígenas) e com os modos de nos compreendermos como país e coletividades. Nos rastros da Modernidade europeia, se construíram hegemonias que foram formando uma ideia qualificadora do “humano”, do “civilizado”, do “moderno”, do “racional”, do “normal”. Partindo de concepções de um sujeito supostamente universal (homem, europeu, branco, heterossexual, cisgênero, sem deficiência e com poder de consumo), ramos das ciências e de certas racionalidades políticas e econômicas passaram a informar um modelo de civilidade ideal, ajustada, adaptada e bem-comportada. Todos os corpos, sujeitos e modos de vida que escapavam/escapam a essas prerrogativas passaram/passam a ocupar o lugar da subalternidade, daquelas existências que não são dignas de reconhecimento e que, portanto, são tratadas como menos dignas de viver - corpos e vidas “matáveis”. Reconhecer essas marcas na construção das nossas teorias, práticas e fazeres profissionais tem se constituído como um desafio e um compromisso de decolonização diante da colonialidade do saber e do poder. A partir desse giro ético, político e epistemológico, pensadores/as, ativistas e intelectuais têm proposto reflexões que visam ampliar as possibilidades de reconhecimento das multiplicidades que compõem as diversidades étnico-raciais, de gênero e sexuais. Buscando aprimorar esse debate no interior da própria psicologia (bem como no diálogo desta ciência e profissão com outras instâncias e atores sociais), a Roda de Conversa “(De)colonialidade: de qual "civilidade" se fala?” proposta pelo Grupo de Trabalho “Psicologia Política” do CRP-12 tem como objetivo mobilizar essas problemáticas ainda tão pouco debatidas entre a categoria profissional.