Esse projeto tem por objetivo mapear efeitos de pertencimento geográfico entre usuários de testes de ancestralidade. Os testes de ancestralidade genética são mapeamentos genéticos que atribuem aos usuários suas regiões de origem no globo de acordo com a compatibilidade dos seus genes com outros grupos genéticos localizados, ignorando as histórias pessoais e produzindo uma naturalidade entre corpos e espaços. Entende-se que com o crescimento do uso desse tipo de produto, há uma proliferação de novos imaginários espaciais que afetam a relação dos usuários com seus espaços de pertencimento. Isso se dá através de dispositivos que interagem linguagem espacial, como cartogramas e designações regionais, com elementos de teor cientificista que atestam conteúdo de verdade, como DNA, porcentagens, coletas, laboratórios etc. Nesse sentido, a pesquisa busca entender como o uso desse tipo de teste intercede na autopercepção e designação geográfica de seus usuários, tendo por especial interesse a reprodução de formas de pensamento exclusionária - ou seja - que criem incorrespondência entre certos corpos e certos espaços. Vê-se com preocupação o crescimento de grupos com discursos de ódio que têm por princípio um discurso racial-geográfico que atribui a certas populações o pertencimento à identidade gaúcha, enquanto invisibilizam e hostilizam a populações historicamente marginalizadas como as de negros e indígenas. Defende-se que o tipo de conhecimento gerado pela presente proposta é fundamental no planejamento de ações antirracistas e antixenófobas, pois permite elucidar as bases do pensamento preconceituoso. Para tanto, serão realizadas três etapas de investigação: uma análise do conteúdo semiótico das empresas promotoras dos testes, uma entrevista para mapear expectativas de pertencimento com potenciais usuários dos testes e um mapeamento dos contínuos e descontínuos provocados pelos resultados dos testes nos efeitos de pertencimento. A análise se dá através de triangulação de dados e com auxílio de análise sistêmico-funcional como estratégia de compreensão do conteúdo semiótico dos textos e imagens apresentados, bem como uma leitura fenomenológica da percepção dos usuários. Espera-se, com esses resultados, poder gerar uma base crítica de conhecimento sobre os usos dos testes de ancestralidade, além de obter mais precisão sobre a gênese dos pensamentos espaciais exclusionários..